quinta-feira, 31 de julho de 2008

Silvio Rodriguez: Playa Giron



Playa Giron (de Silvio Rodriguez)

Compañeros poetas,
tomando en cuenta los últimos sucesos
en la poesía, quisiera preguntar
-me urge-,
¿qué tipo de adjetivos se deben usar
para hacer el poema de un barco
sin que se haga sentimental, fuera de la vanguardia
o evidente panfleto,
si debo usar palabras como
Flota Cubana de Pesca y
"Playa Girón"?

Compañeros de música,
tomando en cuenta esas politonales
y audaces canciones,
quisiera preguntar
-me urge-,
¿qué tipo de armonía se debe usar
para hacer la canción de este barco
con hombres de poca niñes, hombres y solamente
hombres sobre cubierta,
hombres negros y rojos y azules,
los hombres que pueblam el "Playa Girón"?

Compañeros de historia,
tomando en cuenta lo implacable
que bede ser la verdad, quisiera preguntar
-me urge tanto-,
¿qué debiera decir, qué fronteras debo respetar?
Si alguien roba comida
y después da la vida, ¿qué hacer?
¿Hasta dónde debemos practicar las verdades?
¿Hasta dónde sabemos?
Que escriban, pues, la historia, su historia,
los hombres del "Playa Girón".


Sem comentários... E viva el más grande herói, lo etierno comandante Fidel! :D

terça-feira, 29 de julho de 2008

Cecília Meireles: sempre!

Uma coisa que me chama muito a atenção em certos autores é a capacidade de darem "a sua cara" ao que escrevem. Nunca consegui fazer isso: meu texto é quase impessoal, poderia ser escrito por qualquer um... Talvez por isto eu admire tanto a natureza singular de Cecília Meireles:

Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar
dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e,
De outro,
Esquecimento.


Realmente há muita coisa boa em nossa literatura. É uma pena que esta riqueza toda não seja melhor aproveitada em nosso falido sistema educacional para aprimorar o desenvolvimento humano de nossos jovens. É uma pena que essa riqueza toda esteja alijada da nossa mídia, que insiste no lugar comum da violência e do apelo às emoções mais mesquinhas da natureza humana.

Não me admira, frente a essa sociedade de consumo que consome a si mesma, que nos tornemos, com o tempo, embrutecidos animais...

Uma pesquisa no Google sobre Cecília Meireles pode trazer muitas referências interessantes para quem deseja conhecê-la melhor... Uma delas é um pequeno resumo biográfico publicado na Wikipédia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles

Outra bem interessante é uma pequena página no site da TV Cultura, que eu definiria como "Cecília Meireles por Cecília Meireles":

http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/ceciliameireles

Nesta página há uma citação muito interessante:

"Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano".


Como disse antes, Cecília Meireles se diferencia não apenas pela beleza de sua alma singela, mas sobretudo por conseguir imortalizar tal beleza em tudo o que escrevia...

Eis a diferença entre ela e toda uma imensa massa de produtores do que eu chamaria de "literatura de consumo", fadados a morrer com suas obras assim que elas deixarem de estar na moda...

Cecília Meireles, definitivamente, é eterna...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

"Eu Quero", de Patativa do Assaré...

Vida que segue. Para fugir do horror, beleza. Poesia é beleza. E Patativa do Assaré, definitivamente, é poesia no que ela tem de melhor, mais viva, mais bela e, sobretudo, mais autêntica. Viva o mestre nordestino!

Eu quero

Quero um chefe brasileiro
Fiel, firme e justiceiro
Capaz de nos proteger
Que do campo até à rua
O povo todo possua
O direito de viver

Quero paz e liberdade
Sossego e fraternidade
Na nossa pátria natal
Desde a cidade ao deserto
Quero o operário liberto
Da exploração patronal

Quero ver do Sul ao Norte
O nosso caboclo forte
Trocar a casa de palha
Por confortável guarida
Quero a terra dividida
Para quem nela trabalha

Eu quero o agregado isento
Do terrível sofrimento
Do maldito cativeiro
Quero ver o meu país
Rico, ditoso e feliz
Livre do jugo estrangeiro

A bem do nosso progresso
Quero o apoio do Congresso
Sobre uma reforma agrária
Que venha por sua vez
Libertar o camponês
Da situação precária

Finalmemte, meus senhores,
Quero ouvir entre os primores
Debaixo do céu de anil
As mais sonoras notas
Dos cantos dos patriotas
Cantando a paz do Brasil


Para quem não conhece e quer saber mais sobre o grande Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, a Wikipédia é um bom começo. No entanto, há muito mais sobre ele por toda a internet. Uma pesquisa no Google pode revelar muito mais. Boa navegação!

Das vidas que se perdem: o sangue e as lágrimas...

Em meio aos ruidosos carros de propaganda, e à euforia das centenas de paus-mandados que propagandeavam seus candidatos pela rua, um homem chorava um choro baixo, inconsolável pela perda recente de sua esposa. Eu estava ao seu lado, com doze reais na carteira e um valor impagável de ódio no coração. Fosse eu um "Xangô", deus-guerreiro, lançaria sobre esta terra infame centenas de raios, e a pó reduziria aqueles que gritavam lá fora,

Por que gritam? Por dinheiro, claro. Por dinheiro movem-se o mundo e todas as coisas. Pelo mesmo dinheiro imundo que era ainda fonte de agonia maior ao meu amigo: sequer havia conseguido a quantia necessária para dar a entrada no valor exigido pela funerária para o sepultamento de sua esposa.

Tenho esposa também. No momento em que ele me deu a notícia do falecimento, pensei nela. Por empatia, senti os olhos umidecerem, o que é cada vez mais raro, posto que a distância entre o mundo e o meu coração é cada vez mais maior por conta das atrocidades que já testemunhei ao longo dos anos...

Meu amigo lamentava, multiplamente impotente. Impotente diante da morte, como todos nós. Impotente diante do Estado que causa a morte ao impedir que todos tenham o mesmo acesso à saúde. Porém, mais que isso, impotente diante de si mesmo, por não ter podido, em vida, dispor dos recursos que poderiam ter auxiliado sua esposa a viver mais, e, mesmo após sua morte, continuar dependente da ajuda de outras pessoas para poder lhe dar um enterro digno. E ali, ao meu lado sentado, sentia-se impotente como desempregado diante do destino, com um filho de dez anos a quem lhe caberá prover o futuro.

Os sentimentos em meu coração se tornavam revoltosos. Já não sentia apenas tristeza e a empática dor pelo ocorrido. O ódio já pulsava em meu sangue. O ódio tão combatido pelos religiosos, que ensinam-nos a amar a paz, desde que "paz" signifique sermos montados por canalhas burgueses até o momento em que nos seja concedida uma recompensa no "céu"...

É verdade... A esposa de meu amigo morreu porque ele não tinha dinheiro para lhe dar cuidados médicos, porque o Município e o Estado não tinham a possibilidade de cuidar dela. Os religiosos dirão que havia nisso a "vontade de Deus", mas me oponho frontalmente a isso, pois não consigo conceber um deus que desejasse ver seus filhos agonizando, sangrando, morrendo, simplesmente por não terem o maldito dinheiro necessário a comprar o direito de continuar vivo, o direito a uma assistência médica. Não... Nenhum deus teria semelhante vontade...

O ódio subia em minha corrente sangüínea na mesma proporção que as lágrimas começavam a pesar nos olhos. Tivesse eu a graça de ter, naquele momento, os responsáveis pela gestão do governo e um fuzil automático e o prazer em mandá-los todos para o fundo do inferno seria indizível.

Mas eu não tinha esse fuzil... E nem os malditos à minha frente. Aliás... Estes geralmente nunca estão à frente de ninguém: como santos em um andor, andam sempre protegidos por todo um cordel de isolamento, como reis em meio aos plebeus que oprimem. Sim, não são governantes. Nunca houve governantes nesta terra de desgoverno, mas apenas reis. E reis reinam para si, absolutamente. Não é por outro motivo que os ingleses dizem "God saves the Queen!"

Sim... Talvez a prece dos britânicos tenha algum sentido... "Deus salve a Rainha"... Sim... Deus que a salve, porque se caísse na minha mão... Ao menos nesse momento, creio que os infernos seriam mais piedosos que eu...

Deliro... Por pouco perco a razão... Do que falo? O que estou dizendo? Não quero a Maldita Rainha da Inglaterra... E tão pouco me valeria acelerar a a chegada dos nossos governantes, políticos e serviçais ao inferno... Neste momento o que era necessário mesmo era possuir os R$400,00 que o meu amigo precisa para dar de entrada pelo enterro de sua esposa, morta não por uma hemorragia continua de vários dias, mas pela ineficiência do Estado, e pela roubalheira destes governantes, políticos e lacaios. Morta, sobretudo, pela nossa estupidez em conduzi-los ao poder. Morta por nossa covardia e alienação. Morta por não haver forças revolucionárias capazes de conscientizar, mobilizar, construir e conduzir a termo uma revolução socialista que desse ao povo trabalhador o direito à vida, e a esses mandatários do poder econômico o direito à justa expropriação, e ao desterro para o lugar fétido que suas almas egoístas e gananciosas merecem por morada eterna.

Torno a pensar no dinheiro, no maldito dinheiro. Em uma economia capitalista não só a vida é negócio, a morte também, e com direito à mais-valia... Estes R$400,00 não tenho eu. Tenho apenas doze reais na carteira, dos quais seis divido com ele para que compre um cartão telefônico a fim de ligar para algumas pessoas que conhece, humilhando-se em busca da quantia necessária para garantir alguns palmos de terra sobre o corpo já sem vida de sua esposa. Sem vida e sem dignidade: o Estado lhe roubou isso antes do último suspiro...

Não sei se me sinto feliz por poder ajudá-lo desta maneira ou envergonhado por lhe dar o instrumento com o qual ele se humilhará em um sem número de ligações...

Um outro amigo em condição melhor sinaliza para ele uma possível ajuda, pela noite. Já é uma esperança. Bom para ele...

De meu canto, remoendo-me ainda em ódio, confesso que minhas esperanças já são poucas. Não de que ele consiga o que precisa, mas de que este mundo, algum dia, deixe de ser esta caixa de torturas para toda essa gente que trabalha e se expreme nos trens da Central do Brasil.

E aqui me ponho a escrever... Não para extravasar, não é isso... É justamente o contrário... Escrevo para que esse ódio não morra. Para que essas letras o guardem no mesmo lugar onde guardo minhas poucas esperanças de um mundo justo.

Lá, espero, talvez este ódio me possa ser útil: talvez possa ele impedir que essas últimas esperanças também fujam, junto com as outras que já se foram, tal qual um guarda que vigiasse a seus prisioneiros.

Mundo louco este, onde os homens precisam vigiar até mesmo as suas esperanças...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ouço agora: "Mira Ira"...

Eis outra boa idéia para uma seção fixa do blog: listar o que estou ouvindo... Nesta, o maior risco é repetir posts... rs... Sabem como é: não sou consumista, logo estou, quase sempre, ouvindo as mesmas músicas... Algumas delas há mais de 20 anos... Outras, desde sempre...

Já vou avisando logo... Boa parte é muito pouco conhecida e com uma sonoridade diversa... Logo, comentários do tipo "porra, que música escrota" são desnecessários: se elas fossem do gosto comum, tocariam todo o tempo em nossas rádios comerciai$...

"Mira Ira", de Lula Barbosa e Vanderlei de Castro...

Mira num olhar
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...

Mira Ira, raça tupi,
Matas, florestas, Brasil.
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil,
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil...

Mira num olhar,
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...
Mira ouro, azul ao mar,
Fonte, forte de esperança,
Mira sol, canção, tempestade, ilusão,
Mira sol, canção, tempestade,
Ilusão...

Mira num olhar
Verso frágil tecido em fuzil,
Mescla morena,
Canela, cachaça, bela raça, Brasil.
Anana ira,
Mira ira anana tupi
Anana ira, anana ira
Mira Ira


Quem quiser ouvir / baixar pode clicar aqui e visitar a página do "Raíces de América", onde poderá encontrar muita coisa boa mesmo. Bem... Supondo que você seja capaz de considerar como bom qualquer coisa diferente do "primor" de um MC Créu (sei lá como se escreve o nome desse infeliz) e de sua "obra-prima", a tal "melô do créu"...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Para abrir o blog...



Um pouco de poesia... Para quem não conhece, "Cantares", de Juan Manuel Serrat, baseado no poema do também espanhol Manuel Machado...

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.

Nunca perseguí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse.

Nunca perseguí la gloria...

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar:
«Caminante no hay camino,
se hace camino al andar...»
golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
«Caminante no hay camino,
se hace camino al andar...»
golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar,
cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
«Caminante no hay camino,
se hace camino al andar...»
golpe a golpe, verso a verso.


Belíssima... Não sei se conhecem... Pois é... Hoje acordei bonzinho... Vamos ver o que vai dar no resto dos dias em que irei publicar neste blog. Se é que isto se dará...