terça-feira, 29 de julho de 2008

Cecília Meireles: sempre!

Uma coisa que me chama muito a atenção em certos autores é a capacidade de darem "a sua cara" ao que escrevem. Nunca consegui fazer isso: meu texto é quase impessoal, poderia ser escrito por qualquer um... Talvez por isto eu admire tanto a natureza singular de Cecília Meireles:

Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar
dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e,
De outro,
Esquecimento.


Realmente há muita coisa boa em nossa literatura. É uma pena que esta riqueza toda não seja melhor aproveitada em nosso falido sistema educacional para aprimorar o desenvolvimento humano de nossos jovens. É uma pena que essa riqueza toda esteja alijada da nossa mídia, que insiste no lugar comum da violência e do apelo às emoções mais mesquinhas da natureza humana.

Não me admira, frente a essa sociedade de consumo que consome a si mesma, que nos tornemos, com o tempo, embrutecidos animais...

Uma pesquisa no Google sobre Cecília Meireles pode trazer muitas referências interessantes para quem deseja conhecê-la melhor... Uma delas é um pequeno resumo biográfico publicado na Wikipédia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles

Outra bem interessante é uma pequena página no site da TV Cultura, que eu definiria como "Cecília Meireles por Cecília Meireles":

http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/ceciliameireles

Nesta página há uma citação muito interessante:

"Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano".


Como disse antes, Cecília Meireles se diferencia não apenas pela beleza de sua alma singela, mas sobretudo por conseguir imortalizar tal beleza em tudo o que escrevia...

Eis a diferença entre ela e toda uma imensa massa de produtores do que eu chamaria de "literatura de consumo", fadados a morrer com suas obras assim que elas deixarem de estar na moda...

Cecília Meireles, definitivamente, é eterna...

Nenhum comentário: