quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Flagrantes da história contemporânea: "Cansei!", a fracassada tentativa de Golpe de Estado da elite paulistana



Pois é: recordar é viver... Tendo isto em mente, estou lançando mais uma seção fixa neste blog, entitulada "Flagrantes da história contemporânea". O objetivo é registrar referências a fatos de nossa história recente que, não necessariamente, tiveram a devida repercussão e/ou análise pela grande mídia.

Para inaugurar a nova seção, nada mais apropriado do que falar sobre a malfadada tentativa, em 2007, de um Golpe de Estado encabeçado pela elite paulistana e por alguns setores das classes médias de todo o país, ao qual aderiram prontamente um batalhão de "celebridades" como a jurássica Hebe Camargo, a "global" Ana Maria Brega e a "pop" Ivete Sangalo.

Com vocês, a matéria publicada pela "Folha de São Paulo", alusiva ao lançamento deste "movimento"...

OAB lança campanha "cansei" para protestar

Iniciativa encampada pela Ordem foi de publicitários e empresários ligados a tucanos; movimento não é político, dizem lideranças. "Cansei do caos aéreo", "cansei de bala perdida", "cansei de pagar tantos impostos" estão entre os slogans do movimento

(Folha de S. Paulo, São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007. LEANDRO BEGUOCI DA REPORTAGEM LOCAL)

Será lançado hoje em todo o país o "Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros", que os idealizadores já chamam de "Cansei". Emissoras de rádio e TV devem divulgar a iniciativa.
O movimento reúne lamentos distintos em uma "cesta de cansaços". Até o dia 17 de agosto, quando se completa um mês do acidente com o avião da TAM, serão veiculados anúncios com frases como "cansei do caos aéreo", "cansei de bala perdida", "cansei de pagar tantos impostos", "cansei de empresários corruptores".

A iniciativa tomou forma a partir de reuniões no escritório de João Dória Jr. No ano passado, ele promoveu almoços para arrecadar recursos para a campanha do tucano Geraldo Alckmin à Presidência. Oficialmente, a OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) lidera o grupo.

Segundo Luiz Flávio Borges D'Urso, presidente da OAB-SP, apesar dos slogans, o movimento não tem viés oposicionista. "Não entraria em nada com cunho político, o objetivo é expressar indignação contra tudo o que está acontecendo no país, e, algumas coisas, há muitos anos. Não somos anti-Lula." Procurado, o Palácio do Planalto não fez comentários. Mas, conforme informou ontem a "Coluna da Mônica Bergamo", na Folha, o governo monitora o grupo de perto.

No dia 17 de agosto, o "Cansei" fará um ato ecumênico no local da tragédia com o avião da TAM para homenagear as vítimas. Também pedirá que todos os brasileiros façam um minuto de silêncio nesse dia.

Na semana passada, após o acidente, um grupo se reuniu no escritório de Dória em São Paulo para discutir a idéia. Nesta primeira reunião, estavam publicitários como Sérgio Gordilho, presidente da agência de publicidade África, e membros do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), como Ronaldo Koloszuk, 29. Depois, o grupo ganhou a adesão de outras entidades, como a Associação Comercial de São Paulo.

"Perdi amigos no vôo da TAM", diz Dória. "O movimento nasceu de uma indignação coletiva, da sensação de que é preciso fazer alguma coisa, mostrar que a sociedade não está apática. Mas, ao mesmo tempo, queremos demonstrar uma solidariedade às vítimas de forma pacífica, organizada. Unimos as duas coisas, com o mesmo espírito."

Na última terça-feira, o grupo se reuniu com a OAB-SP e propôs que a entidade liderasse o "Cansei". Segundo Dória e D'Urso, só a organização dos advogados tem legitimidade para levar adiante "um movimento em prol da cidadania".

Tucanos

O grupo afirma que não teve nem terá custo algum com a campanha. "As campanhas publicitárias foram feitas de graça e as TVs e rádios também vão veiculá-las sem cobrar", diz Koloszuk, da Fiesp. Um anúncio de 30 segundos no intervalo do "Jornal Nacional", da TV Globo, custa R$ 318.500.

Quem capitaneou a produção das peças foi a África, de Nizan Guanaes. Ele fez a campanha do tucano José Serra à Presidência, em 2002, e uma de suas empresas ganhou neste mês parte da conta dos Correios, do governo federal, no valor de R$ 22 milhões. Os organizadores do "Cansei" dizem que outras agências colaboraram com o movimento, mas não divulgaram os nomes.

Todos os organizadores tentam se desvincular de partidos. Dória, ligado aos tucanos há muitos anos, afirma: "Tenho uma boa relação com o Alckmin, mas não conversei com ele sobre o movimento. Ninguém pode acusar o brasileiro de que, porque está indignado, faz política." D'Urso afirma que se a oposição ao Planalto fizer uso do "Cansei", o movimento sairá de circulação.

É a mesma posição de Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo, entidade que era presidida por Guilherme Afif Domingos (DEM), hoje secretário do tucano Serra no governo de São Paulo. "Queremos despertar em cada indivíduo o que ele pode fazer para mudar o país."


Ao final disso tudo, só nos resta respirar aliviados com o fato de não terem nossas classes médias o mesmo poder de convencimento e influência sobre as massas que possuíam no fatídico ano de 1964. E rir, é claro, do gorila pagado por toda essa calhorda reacionária que não aceita a democracia de forma alguma. Mas, entre o suspiro aliviado e o riso, deve haver espaço também para a reflexão acerca do fortalecimento de nossas instituições democráticas. Afinal, este não foi o primeiro e nem significa o fim de toda uma campanha orquestrada para desestabilizar o país e reconduzi-lo, se possível, a uma ditadura de nossa doente extrema direita.

NOTA: Quem quiser se divertir um pouquinho mais com o "Cansei!" pode visitar o blog "CANSEI: TÔ CANSADINHO!", exclusivamente dedicado ao tema.

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