sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Salvador Allende: um precursor

POR NIDIA DÍAZ — especial para o Granma Internacional

A comemoração do centenário do natalício de Salvador Allende Gossnes — figura cume da história chilena e latino-americana — torna-se ocasião propícia para fazer uma retrospectiva e recordar uma vida fecunda, consagrada à defesa das classes populares, à independência do Chile e da América Latina e à solidariedade inqubrantável à Revolução Cubana.

Com uma longa trajetória, o jovem médico foi ministro da Saúde no governo da Frente Popular de Pedro Aguirre Cerda, representando o Partido Socialista do qual era membro destacado.

Não se poderia escrever a história do Chile contemporâneo nem da América sem dedicar um capítulo importante a Allende, pois ele não só é símbolo, mas também protagonizou na primeira linha um combate de ações e de idéias, conseqüente, até o último momento, com a palavra empenhada perante o povo trabalhador de seu país e perante o mundo inteiro, que observava com interesse e admiração aquele enfrentamento insólito, em que o imperialismo norte-americano e a oligarquia local procuravam por todos os meios fazer gorar definitivamente aquele exemplo, até então sem precedentes, da subida ao governo de uma coalizão de forças populares, determinadas a fazerem uma mudança social.

Por tanto, Allende foi um precursor. E como precursor, não faltaram imcompreensões, detratores e sem-razões, que também não enfraqueceram sua firmeza e convicção. Quanto à chamada “via chilena ao socialismo”, que ele pensava que era realizável, ainda quando não ignorava (tal como denunciou milhares de vezes) que o imperialismo norte-americano e seus aliados locais não abririam mão de fazer gorar essa experiência, que consideravam perigosa e contagiosa.

Allende não foi um utópico nem um iluso. Foi um revolucionário que se entregou à causa dos trabalhadores do Chile, aos quais consagrou e entregou sua vida heróica.

Em meio ao mundo bipolar e à guerra fria, um amplo setor do povo chileno, os partidos políticos de esquerda, os sindicatos e as organizações de jovens e de estudantes, os mapuches discriminados e alguns oficiais dignos e constitucionalistas das forças armadas, decidiram acompanhá-lo na difícil e arriscada tarefa de transformar o Chile dentro de um contexto regional, onde só a Revolução Cubana podia dar apoio incondicional e confiável.

Quem provocou sua morte? Não foi só Augusto Pinochet.

Richard Nixon, Kissinger e a CIA têm as mãos manchadas com o sangue do presidente-mártir. Também a ITT Corporation e demais multinacionais monopolistas norte-americanas. Eles, todos, organizaram e realizaram, naquele 11 de setembro de 1973, o golpe arteiro e fascista contra o processo da Unidade Popular.

Começou assim a noite escura no Chile e na América do Sul, sendo a chamada Operação Cóndor sua expressão mais criminosa, com um saldo de milhares de pessoas assassinadas e de desaparecidos. O golpe contra Allende foi necessário para desenvolver o funesto Plano Cóndor, que se estendeu à Argentina, ao Brasil, ao Uruguai e ao Paraguai, países em que também existiam ditaduras militares apoiadas pelo governo dos Estados Unidos.

Reatar plenas relações diplomáticas e comerciais com Cuba foi a primeira medida da política externa do governo da Unidade Popular, que debilitou, dessa maneira, o ferrenho bloqueio político do imperialismo norte-americano, sendo o primeiro passo para os sucessivos reatamentos que tiveram lugar na década dos anos de 70 e de 80 pelos demais países latino-americanos.

A solidariedade de Salvador Allende à Revolução Cubana e sua amizade sincera com Fidel caracterizaram a vida e obra deste homem excepcional que, com o decurso dos anos, se transforma dia após dia em referência e exemplo, figura que soube ver, talvez precocemente, novos e ignotos caminhos que enriqueceriam aquele da luta popular nas condições históricas de cada país.

O centenário de Salvador Allende tem lugar numa América nova — em meio a duras lutas e a iminentes perigos — cheia de realidades e de esperanças que cada vez mais se estendem pelo continente.

No seu germe histórico e em sua luta cotidiana, enfrentando os mesmos inimigos, ergue-se, desafiante e invicta, a figura precursora de Salvador Allende.

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